Às vezes eu olho para o céu e vejo a beleza de um céu
estrelado; quando paro para observar estas estrelas, esse céu, que parecia
simplesmente um céu, adquire um novo valor, nem sempre sei claramente o que estou
vendo, mas é simplesmente belo.
A simplicidade da vida na terra foi pouco a pouco
esquecida pela humanidade, incrível que mesmo as pessoas de vida simples foram esquecendo
esta maravilha. As verdadeiras riquezas foram sendo catalogadas como ignorância
e pobreza.
Em uma vivência de xamanismo de busca de visão, fui
dormir algumas noites numa tenda no meio da mata, onde ficavam as mulheres em
seu período menstrual. Esta era construída de costaneiras, coberta com taquaras
pelos índios Guaranis, e não tinha piso, era simplesmente chão batido. Ali se fazia
um fogo que ficava aceso dia e noite, este era mantido pelas mulheres que
estavam nesta tenda. Ao lado desta, ficava uma pilha de lenha e gravetos para
alimentar o fogo. Este exercício diário que experimentava, independente da
minha vontade, me deixava extremamente irritada, depressiva, triste. Embora
tentasse me desvencilhar destas sensações era em vão, as técnicas não se
mostravam hábeis, ou seja, não funcionavam. Após sair desta tenda, fui para
outro espaço de busca, ainda querendo compreender o que se passava. Tive um
momento de lucidez, como um filme na minha lembrança, do tempo em que vivia em
um lugarejo pobre, uma vila de pescadores, onde carregávamos água da fonte e
acendíamos um fogão de lenha para cozinhar, sem luz elétrica, nem geladeira, televisão,
enfim, sem as condições ditas atualmente como imprescindíveis para sobreviver. Vi
então o quanto meus valores haviam mudado, e a dificuldade que ainda existia em
achar que a simplicidade da terra era considerada pobreza. Esta memória permanece
em nós, ou vivemos isto como excentricidade, aventura, ou nos debatemos nos
sacrifícios que às vezes a própria vida nos impõe. E dessa simplicidade, que às
vezes nos traz também saudade, melancolia, é como uma busca de nós mesmos, de
viver a terra em nós mesmos, de experimentar andar na chuva sem proteção, de
tomar um banho de água gelada no inverno, de caminhar na mata, de correr de
braços abertos nas dunas, de rir simplesmente sem precisar de nada engraçado,
de acordar cedo para assistir o nascer do sol, de presenciar a hora em que a noite
troca pelo dia como uma página que vira, que os Guaranis chamam de “a hora da
visão”, de ficar acordado para escutar o primeiro passarinho que canta na
madrugada, e muitas outras formas de terapias que a natureza nos oferece todos
os dias.
Quando aceitamos ser natureza e não nos
diferenciamos dela, tudo fica em paz, e é possível sentir alegria. Quando
negamos esta própria natureza que somos, nos sentimos separados e assim sem
força e sem poder, tudo fica difícil e sem graça e vamos morrendo internamente;
vem o desânimo, a falta de entusiasmo, brigamos com tudo e com todos. Lidar com
estas sensações nos dá muita impotência e descrença. A mente nos domina.
É preciso lembrar que tudo pode ser diferente, se
optarmos em viver verdadeiramente; respirar mais, se observar mais, observar
nossos pensamentos, lembrar que são só pensamentos, escutar os barulhos
externos, perceber os estados internos, as emoções, as vontades, e lembrar da
capacidade infinita que somos.
Sabedoria que brota... Gratidão por compartilhar querida Pedra! Linda Vida!
ResponderExcluirNossa inspirou meu dia, compartilhei!
ResponderExcluir