segunda-feira, 30 de julho de 2012

Simplesmente Viver!


Às vezes eu olho para o céu e vejo a beleza de um céu estrelado; quando paro para observar estas estrelas, esse céu, que parecia simplesmente um céu, adquire um novo valor, nem sempre sei claramente o que estou vendo, mas é simplesmente belo.
A simplicidade da vida na terra foi pouco a pouco esquecida pela humanidade, incrível que mesmo as pessoas de vida simples foram esquecendo esta maravilha. As verdadeiras riquezas foram sendo catalogadas como ignorância e pobreza.
Em uma vivência de xamanismo de busca de visão, fui dormir algumas noites numa tenda no meio da mata, onde ficavam as mulheres em seu período menstrual. Esta era construída de costaneiras, coberta com taquaras pelos índios Guaranis, e não tinha piso, era simplesmente chão batido. Ali se fazia um fogo que ficava aceso dia e noite, este era mantido pelas mulheres que estavam nesta tenda. Ao lado desta, ficava uma pilha de lenha e gravetos para alimentar o fogo. Este exercício diário que experimentava, independente da minha vontade, me deixava extremamente irritada, depressiva, triste. Embora tentasse me desvencilhar destas sensações era em vão, as técnicas não se mostravam hábeis, ou seja, não funcionavam. Após sair desta tenda, fui para outro espaço de busca, ainda querendo compreender o que se passava. Tive um momento de lucidez, como um filme na minha lembrança, do tempo em que vivia em um lugarejo pobre, uma vila de pescadores, onde carregávamos água da fonte e acendíamos um fogão de lenha para cozinhar, sem luz elétrica, nem geladeira, televisão, enfim, sem as condições ditas atualmente como imprescindíveis para sobreviver. Vi então o quanto meus valores haviam mudado, e a dificuldade que ainda existia em achar que a simplicidade da terra era considerada pobreza. Esta memória permanece em nós, ou vivemos isto como excentricidade, aventura, ou nos debatemos nos sacrifícios que às vezes a própria vida nos impõe. E dessa simplicidade, que às vezes nos traz também saudade, melancolia, é como uma busca de nós mesmos, de viver a terra em nós mesmos, de experimentar andar na chuva sem proteção, de tomar um banho de água gelada no inverno, de caminhar na mata, de correr de braços abertos nas dunas, de rir simplesmente sem precisar de nada engraçado, de acordar cedo para assistir o nascer do sol, de presenciar a hora em que a noite troca pelo dia como uma página que vira, que os Guaranis chamam de “a hora da visão”, de ficar acordado para escutar o primeiro passarinho que canta na madrugada, e muitas outras formas de terapias que a natureza nos oferece todos os dias.
Quando aceitamos ser natureza e não nos diferenciamos dela, tudo fica em paz, e é possível sentir alegria. Quando negamos esta própria natureza que somos, nos sentimos separados e assim sem força e sem poder, tudo fica difícil e sem graça e vamos morrendo internamente; vem o desânimo, a falta de entusiasmo, brigamos com tudo e com todos. Lidar com estas sensações nos dá muita impotência e descrença. A mente nos domina.
É preciso lembrar que tudo pode ser diferente, se optarmos em viver verdadeiramente; respirar mais, se observar mais, observar nossos pensamentos, lembrar que são só pensamentos, escutar os barulhos externos, perceber os estados internos, as emoções, as vontades, e lembrar da capacidade infinita que somos.

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