quinta-feira, 10 de setembro de 2015

METAMORFOSE

METAMORFOSE
  1. INTRODUÇÃO
O desafio da transracionalidade está inserido em meu interior, desde antes de meu nascimento. A cada dia fico mais convencida disto, sem prepotência ou vaidade, apenas e naturalmente aceitando aquilo que simplesmente é.
Assim, observo minha vida neste formato em que estou vivendo agora, com apenas uma certeza, a de que tudo passa. Sinto-me saindo da caverna, como na Caverna de Platão, o mito tirado do livro A República, quando me escondia com medo dos reflexos projetados como sombras em meu interior.
Associo, também algumas etapas vivenciadas de pós modernidade, quando questionava tudo e todos em busca da verdade, onde os reflexos de luzes e sombras se confundiam e não conseguia discernir o que estava realmente acontecendo dentro e fora de mim. Imaginava que precisaria ir até o fundo de um grande poço ou de um imenso buraco negro, onde me via e sentia caindo, e com medo me segurava em algo, ou conseguia ficar em algum lugar passível de proteção e ajuda.
Quando assumi adentrar nas minhas emoções mais básicas, num contato comigo mesma, experimentando os infernos criados por minha própria mente, foi possível chegar a este fundo do poço, cuja energia é considerada ponto zero. Nesse ponto é impossível descer ainda mais, então vivenciei a possibilidade de presenciar e reconhecer a grande maravilha que é o Eu Sou superando as dúvidas e reverenciando este grande mistério chamado conceitualmente de vida.
Certa vez, num consultório de uma amiga dentista, entre os procedimentos odontológicos, filosofávamos sobre as questões do cotidiano, quando num momento de liberação do sugador de saliva de minha boca, expressei algo sobre o assunto movida por uma certa euforia, ao ver surgindo a minha frente uma imensa tela branca, como uma imagem mental. Senti uma fala brotando numa compreensão inexplicável e apenas traduzindo em palavras o que estava visualizando, exclamei: -porque a vida… a vida é, simplesmente!!
Era algo fantástico, impossível de descrição, um campo aberto de energia e eu magicamente inserida nele. Não existia separação, eu era o campo, a vida. Num certo momento canalizei uma música que expressa algo semelhante, e é intitulada Caminho de Estrelas:
Você que caminha na Terra
Você que caminha ao Sol
Você que caminha no Vento
E vive o caminho do Amor
Vai além do pensamento
Atravessa as fronteiras da dor

Você é levado no vento,
Que leva às ondas do mar
Viaja pelo infinito
Fica deitado no ar
Se deita numa cama de estrelas
Fica assistindo ao Sol
Olha o Sol e a Terra
Sente a luz da imensidão
Não teme a vida e a morte
Nem sente mais separação
Mergulha na água e no fogo
Habita o ar e o chão
Aha e aho, aha e aho…

Neste caminho vermelho
Eu rezo por felicidade
Que eu seja uma grande criança
Brincando em todas as idades
Que não haja mais diferenças
Nem crenças de separação
Que seja uma só presença
Numa completa união
Dessa maneira, esse ensaio é como um entalhe de uma proposta de vida que foi sendo esculpida em cada detalhe sem que necessariamente eu pudesse ter a dimensão do que de fato ia acontecendo. Nesta escrita está o delineamento do caminho por mim percorrido na condição de observador atento que tem a possibilidade de admirar a obra.

  1. DIALÉTICA DE UMA TRAJETÓRIA

2.1 Ordem política e social: formadores de paradigmas.
Desde criança ouvia meus pais falarem de política, evitando transparecer suas opções, com medo de represálias do partido vencedor, caso não fosse o escolhido. Era uma cidade pequena sob o controle dos cabos eleitorais, ou seja, pessoas da comunidade que representavam os candidatos, com o poder de negociação de concessão de favores, ou dinheiro para troca ou compra de votos. Eu e minha irmã éramos revolucionarias e queríamos ir para a rua expressar nossos candidatos e partidos, porém isso era devidamente recomendado como proibido.
Nasci em 1954 num momento em que se configurava uma crise econômica e política no país, culminando no movimento revolucionário de 1964, portanto minha infância esteve todo tempo sobre esta influência, acompanhando as conversas e notícias sobre as pessoas chamadas de comunistas, cuja população tinha medo até de falar sobre eles, entretanto isto me atraia e amedrontava, eram considerados ídolos por mim, nutrindo por eles muita admiração.
A ordem doméstica era exercida por minha mãe, que controlava desde o cuidado com os filhos até a administração dos parcos recursos para a sustentabilidade familiar. Havia um certo rigor na imposição de uma dinâmica embasada nas influências externas: da grande família, vizinhança, escola, igreja. O medo permeava esta ordem, cuja desobediência resultava em castigo, inclusive físico. Isto gerava em mim e minhas irmãs muita revolta, repressão de nossas vontades, sendo então, extravasado através de atitudes subversivas.
Incrível é escrever estas memórias e me sentir em paz, reconhecendo as marcas, porém sem a impressão emocional. Hoje com um novo olhar, vejo permeada nas relações domésticas a influência de um período regido por um governo militar, ditatorial, onde imperava a supressão da liberdade política, interferindo assim em todas as áreas da nação brasileira.
Participei já na universidade dos movimentos estudantis contra a ditadura, embora de forma contraditória, uma parte de mim me impulsionava e outra parte se contraia com medo e culpa, entre a vontade de agir e a sensação da realização de algo contrário à ordem imposta e ensinada no âmbito familiar. Vejo claramente as questões paradigmáticas que vão assim, sendo repetidas gerações após gerações.
Segundo Durkheim fui condicionada a seguir as normas impostas pela sociedade e coercitivamente fui me conformando a esta ordem, assimilando normas e regras de ação exteriores a mim, sem aceitá-las, porém, me sentindo obrigada a vivê-las.

Cabe citar um sistema de crenças a que inserida, de forma individual, grupal ou coletiva interferiam inconscientemente nesta contradição, embora lutasse veementemente contra tudo e contra todos, a impotência gerava a impossibilidade para encontrar saída além dos sonhos e tímidas atitudes subversivas, na busca de coragem para assumir ações enaltecedoras passíveis de quebrar estes padrões.
Assisti ao movimento contrário à ditadura, acompanhando manifestações estudantis, sem, contudo, me envolver abertamente, nutrindo a imensa admiração àqueles heróis posicionados à frente, que faziam acontecer a história, e eram geradores de novos fatos sociais.

2.2 Contradições de uma prática questionadora.

Como profissional de Serviço Social, procurava me posicionar criticamente assumindo atitudes por vezes impulsivas, cuja finalidade era a de me sentir orgulhosa de mim mesma.
Iniciei aí uma jornada no movimento sindical, ligado ao Serviço Público Estadual, voltado às questões educacionais adotando Gramisci, Paulo Freire, Marx, Engels e outros, nos debates, estudos e fundamentações teóricas norteadoras da prática.
Em alguns momentos destas experiências diretamente ligadas aos comandos de greves, frentes de trabalhos de conscientização política da categoria, me colocava em contradição e apresentava discursos questionadores desta mesma prática, da realidade ora inserida, assumindo um papel de buscar uma consciência transformadora, sem, contudo, repetir com outro discurso toda a ação manipuladora contra a qual lutávamos. Isto causava por vezes, profundos conflitos e debates entusiásticos produzindo um movimento entre adesões e reações contrárias, principalmente das lideranças que se sentiam ameaçadas ou enfraquecidas.
Assumir um posicionamento crítico para mim era fundamental, pois do contrário corria o risco de ser influenciada por um pensamento mágico, ingênuo, o qual de acordo com Paulo Freire eram geradores de cegueira político- ideológica. Tudo isto era movido por uma paixão, uma certeza de que transformaríamos a sociedade, e deixaríamos um legado de justiça, de paz, de condições dignas de vida para as futuras gerações. Idealizava esta sociedade mais justa, com possibilidades de maior distribuição de renda, de partilha de bens e serviços, diminuindo assim as desigualdades sociais, um povo livre e capaz de gerir sua própria vida, com dignidade e alegria.
Com Gramsci, idealizava a possibilidade de quebra das estruturas cristalizadas no âmbito profissional estando inserida nestas próprias estruturas, como profissional nas escolas, nas instituições de Assistência Social, experimentando a rigidez do sistema, buscando nas suas contradições encontrar brechas para a implementação de propostas de políticas públicas possibilitadoras de um trabalho libertador. Quando o discurso se dissociava da prática cotidiana me visualizava servidora e implementadora das mesmas ações político-ideológicas com as quais lutava. A sensação era de girar em círculos fechados, sem sair do mesmo lugar.
Trabalhava com “menores em situação de risco” assim eram consideradas as crianças e adolescentes ditos marginalizados e destinados a serem atendidos pelas políticas públicas municipais e estaduais respaldadas no âmbito federal e, conjuntamente à justiça do Estado.
Era desesperadora sua inoperância, uma ação apontada como imprescindível para o bem-estar social, entretanto apenas servia aos discursos políticos e fins econômicos, servindo como justificativas para consecução de recursos geralmente utilizados para outras finalidades.
O trajeto das verbas disponibilizadas para a execução dos projetos iam se diluindo de gabinetes em gabinetes, chegando às bases minguados recursos, insuficientes para suprir as demandas da realidade social emergente, embora tendo sido os projetos devidamente aprovados com previsão de recursos, posteriormente divulgadas como práticas realizadas nas estatísticas de atendimento, para avaliações de cumprimento de metas, nas realizações de ações que validavam o exercício político e consequentes justificações de verbas destinadas para aquele fim.
Por vezes tinha a impressão que era funcionalmente remunerada simplesmente para cumprir este papel de legitimadora do sistema, avaliando em equipes interdisciplinares, concluindo que nossa inoperância e burocracia repercutia em consideração e avaliação positiva funcional. No entanto, a contradição entre o compromisso com a sociedade e a impotência da prática “faz de conta”, geravam questionamentos diversos, expressados em forma de stress, frustração e inoperantes lutas.
Lembro de minha mãe, quando me dizia que eu era como Dom Quixote de La Mancha lutando contra os moinhos de ventos. Nestes diálogos com Gramsci, Paulo Freire, Marx e Engels vejo a sociedade com sua dinâmica própria, cada cultura articulando-se no bojo de suas próprias contradições econômicas, sociais, político-ideológicas, na busca de sobrevivência através da satisfação das necessidades básicas circunstanciais, onde na sua maioria prevalecem os interesses individuais em detrimento dos coletivos.
Percebo também, intelectuais que idealizaram a liberdade deste povo, embora considerados historicamente heróis, por vezes, também foram criticados como loucos, tendo sido estigmatizados entre a própria população pela qual pensaram, sofreram e lutaram para libertar.
Cabe, porém, ressaltar a importância destes movimentos, na construção de novas formas de viver, de conquistas populares e a fomentação de uma consciência que dialoga entre o possível e o impossível, questionando e quebrando as muralhas separatistas, onde a própria história que registra suas construções também é infalível nas suas derrubadas.
Acredito que só existe opressor quando um indivíduo ou um grupo se sente oprimido, os ditadores ganham força movidos pela inconsciência popular, um sistema de crenças repassado de geração em geração, fortalecido por mecanismos conscientes e inconscientes. São legitimados por um sistema mantenedor de uma cultura embasada numa ideologia justificada como protecionista, como defensora das minorias consideradas incapazes de se auto defenderem, de se auto gerirem, de sozinhos sobreviverem.
Em nome desta necessária organização e defesa criam-se organismos e mecanismos que transformam estas necessidades em formas de contratos e regulamentos os quais passam a ser coercitivamente seguidos por todos, para a manutenção da ordem social, da continuidade da vida e do sistema que os protegem.
Assim estão embasados os regulamentos, as leis, as constituições, os contratos, ou seja, as diferentes maneiras de consolidação dos sistemas, para que hegemonicamente possam governar, regular, controlar, exercendo assim suas funções sociais no controle das organizações, da coerção social, justificadas pela necessidade de manutenção da ordem, da segurança, da harmonia, justiça, progresso, da verdade, da paz, das diferentes pazes.
Ainda no serviço público Estadual participei de uma equipe interdisciplinar atendendo “adolescentes infratores”, ou seja, adolescentes que haviam cometido um ato infracional, colocados em regime de Liberdade Assistida, um projeto integrado entre a entidade estadual de assistência e cumprimento das medidas disciplinares e o próprio poder judiciário que determinou a medida.
Paralelo ao acompanhamento a estes adolescentes realizava conjuntamente a equipe, abordagens de rua, lidando com crianças e adolescentes, através de conversas informais, reuniões, encontros, primeiramente na própria rua, em praças ou lugares de convívios diários, e após no próprio Juizado.
Meu convívio com estas crianças foi muito interessante e instrutivo, principalmente quando se confrontavam com representantes da Justiça, cuja relação era muito conflitiva, pois eles quebravam a ordem ali constituída, impondo assim uma revisão de abordagem, que era devidamente respaldada por uma proposta considerada institucionalmente importante.
Passei por um balanço de vida, ao rever e me rever diante das realidades vivenciadas, principalmente quanto a instabilidade e stress gerados pelas instituições relacionadas ao projeto, optando finalmente pela minha saída da instituição.

2.3. Uma nova proposta, novos desafios
Iniciei então, uma nova proposta junto à natureza, com criação de minhocas para produção de húmus, jardinagem e participação em uma feira municipal, com criação, produção e venda de vasos com plantas para interiores e outros ambientes, chegando a compra de uma floricultura. Assim, me sentia muito mais livre e confortável, apesar de ser um trabalho árduo.
Estava tão envolvida que nem participei do grande movimento político de Impeachment de um presidente do Brasil, me sentia muito distante dos meios políticos e institucionais. O grande desafio do momento era sobreviver numa outra proposta, a de ser a protagonista da minha própria história, aliás esse era um sonho alimentado desde criança. Lenin me dirigia através de uma citação: “É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nossos sonhos, de confrontar nossos sonhos com a realidade, de comparar nossa percepção com a vida real e realizar escrupulosamente nossas fantasias”, isto me dava impulso para fazer acontecer meus projetos.
Surgia então uma nova área de conflito, lidar com funcionários, experimentando assim o outro lado da luta de classes, tão polemizada nas práticas sindicalistas, onde me deparei com uma vontade e uma busca de estabelecer um, diálogo construído de forma horizontal, visando uma convivência sadia com valorização e justiça. Entretanto isto ocasionava uma confusão em ambas as partes, porém eu era a parte explorada da relação, cujo paradigma gerava uma grande impotência e me colocava de volta na dualidade, exigindo uma relação vertical entre patrão e empregados em contradição entre a teoria defendida e a prática neste momento exigida.
A política daquele momento era economicista, meu grande desafio era sobreviver e minha prática consistia em administrar receitas, gastos, compras, vendas, funcionários, contador, impostos, clientes, fornecedores, enfim, uma roda viva que não cessava nem quando dormia.
Apesar de ter desenvolvido o gosto artístico na criação de arranjos florais, na lida diária com a beleza da natureza expressada através das flores, das plantas, das relações com as pessoas as quais demonstravam sentirem-se acolhidas pelos serviços oferecidos, com elogios e apreciações, faltava-me entusiasmo, a sensação era que tudo estava ruindo. Entretanto não sentia, nem visualizava qualquer possibilidade de reação, era tudo muito vazio, um estado de pura mecanicidade e reatividade.
 Os conflitos e decepções geravam em mim uma dissociação de campo de energia, provocando um vazio, uma ausência de mim mesma, era como se minha alma caminhasse num imenso deserto, sem, contudo, visualizar saídas. Aos poucos fui me tornando amarga, revoltada, triste, adoecendo, com pânico, depressão e diferentes processos de somatização, era urgente encontrar uma solução, alguma forma de ajuda.
Hoje percebo a longa jornada que percorri ao longo da minha existência, para chegar num lugar onde pudesse finalmente me sentir integrada, absorvida pela própria existência e assim poder viver a real vocação de ser feliz.
Como um mistério inexplicável que acontece na arte dos relacionamentos da vida cotidiana, fui encontrando assim, novos contatos que me apresentaram caminhos, onde pude experimentar outros conhecimentos ligados com a espiritualidade, o esotérico, a Naturologia, a Física Quântica, movida pela necessidade de cura e compreensão do que estava acontecendo.

2.4 A transracionalidade num encontro com a Paz

Estava num imenso caos, tentando me segurar para não cair no fundo do poço, o que se tornou impossível. Outras compreensões e buscas foram surgindo e paulatinamente fui encontrando algumas saídas, como me especializar em Naturologia Aplicada, ajudas psicoterapêuticas, terapêuticas espirituais, holísticas e outras.
Era comum escutar dos meus cuidadores que existia um potencial em mim, o qual necessitava de contato, entretanto minha resistência impedia seu acesso. Uma certeza se acendia no meu interior, precisava me vencer para encontrar alegria, felicidade.
Participava de um grupo de meditação seguindo ensinamentos dos Mestres da Fraternidade Branca, no período noturno, semanalmente, sendo um momento de grande ajuda. Num momento destes, vivenciei algo inexplicável. Era como se me deslocasse da sala de meditação para um outo lugar, era uma conhecida praça, numa parte alta da cidade. Avistei uma estrela cadente e se deslocou um homem com aparência e trajes normais, ocidentais, vindo em minha direção e passamos a caminhar lado a lado, conversando comigo, me passando instruções.
Apontou uma estrela no céu, da qual viera me pedindo que aceitasse um trabalho necessário de ser realizado. Todo o contato se daria através do pensamento de forma natural, sendo que a qualquer momento estaríamos juntos, entretanto seria imprescindível vencer minha própria resistência. Incrédula, mas estupefata não conseguia expressar qualquer reação contrária, era uma realidade inteiramente desconhecida, mas que me preenchia, me sentia segura e assim, porque não experimentar?
Parecia vislumbrar uma perspectiva, uma esperança, e nas horas que sentia necessitar de ajuda, bastava lembrar para alterar meu estado, experimentando algo novo, diferente do que já estava cansada de viver. A noite era possível identificar a estrela e sem conseguir explicar, sentia nossa ligação. Embora, questionasse tudo que estava vivendo, querendo uma resposta passível de explicação, me encontrava em uma situação que não cabia em explicações racionais, e dessa forma, me entregava ao mistério, simplesmente.
Outras instruções foram passadas, durante uma meditação, também de formas incompreensíveis, porém bem diretivas, senti uma forte pressão sobre minha cabeça, obrigando-me a incliná-la para frente, ordenando-me que repetisse: eu sou submissa eu aceito o poder, eu sou submissa eu aceito o poder...Entre as repetições, vinham dúvidas me sentindo ridícula, porém não conseguia parar nem levantar a cabeça até que parasse de lutar absorvendo o real conteúdo ali indicado. Noutro momento a informação era: - eu não sou responsável por ninguém, sou responsável apenas por mim mesma. Houve, porém, um grande momento o qual representou um marco na minha existência.
Minhas amigas resolveram ajudar-me a compor uma sala de terapias, certas que esta era a única saída para minha vida, mas eu não sabia o que iria fazer, pois além do curso de especialização em Naturologia, em formação, havia sido iniciada em Reiki, era por onde sentia segurança para começar. Então, aproveitei uma dependência de empregada nos fundos de um apartamento antigo, no centro da cidade de Florianópolis, arrumando-o, iniciando por uma pintura.
Resolvi pintá-lo de azul com algumas nuvenzinhas, para um ambiente leve e harmonioso, preparando uma tinta branca com pingentes nas cores primárias, após o azul nas paredes e teto. Com pincel comecei a pintar as nuvens, mas percebi que estava ficando muito ruim, desolada sentei no chão do quarto sem saber como poderia prosseguir, sendo que teria que consertar o estrago da parede já pintada.
Derramei um pouco de tinta num prato remexendo-o a ermo, procurando ficar em silêncio e encontrar uma ideia, um insight. De repente resolvi brincar, pingando uma gota do pigmento no prato de tinta branca e adorei a reação, pingando outras cores que se misturaram, quando pensei: -vou ter que repintar a parede, por que então não aproveitar para me divertir um pouco? Coloquei minha mão sobre a tinta e passei na parede, e esta se moveu freneticamente, sem controle ao mesmo tempo que repetia sem pensar, sem parar: - aprende na parede a ser terapeuta, tu não fazes nada apenas empresta a tua mão. Foram duas horas de trabalho em duas partes do quarto. Resolvi, então desenhar um ramo com duas folhas e uma rosa vermelha, pensando que algum desenho seria criação minha. Admirei o lindo trabalho totalmente abstrato, encerrando feliz.
À noite recebi a visita de alguns amigos e amigas e orgulhosa lhes mostrei minha arte, e para cada um ou uma que viam comentaram figuras no meio da abstração, e me perguntavam porque tinha pintado um velho, um ET e outras formas ao olharem o desenho do ramo de roseira. Intrigada com os comentários passei a olhar as paredes sem me concentrar e quando minha mente relaxava meus olhos viam as composições ali impressas.
Lembrei quando me falavam que precisava realizar um trabalho de cura e me indignava que não via, não ouvia, não possuía nenhuma forma de poder transpessoal ou paranormal, como então poderia ajudar alguém. Ali estava expresso nas paredes aquilo que eu não enxergava, um mundo maravilhoso ligado aos diversos reinos com diferentes formas de seres os mais diversificados. Sempre que tinha um tempo, lá era meu paraíso cada vez que olhava novas imagens se apresentavam. Estava feliz, extasiada.
Outra sincronia foi quando uma cliente da floricultura, sofrendo com trombose, conversando comigo sem saber do que estava acontecendo, de repente me perguntou se eu não poderia ajudá-la, com algum tipo de trabalho energético, de cura, ao que lhe respondi, que estava com uma sala para iniciar um atendimento, mas não sabia como fazer além de Reiki. Ela concordou e combinamos um encontro no dia seguinte.

Tentei em vão acessar alguma forma de realizar o trabalho, até procurei argila para uma aplicação, mas estava em falta nos locais habituais. Iniciei meu trabalho, com alguns materiais estudados na Naturologia, após acomodei-a num colchão no chão e iniciei uma meditação dirigida, percebi que relaxara profundamente, sentindo confiança em me expressar livremente, lembrando da orientação recebida, aprende na parede a ser terapeuta, tu não fazes nada só emprestas tua mão. Assim, coloquei minha mão sobre o local e comecei a falar sem pensar, apenas falar.
Quando terminei ela estava muito impressionada, dizendo que não estava dormindo e que eu tinha lhe falado muita coisa que ela necessitava saber. Era semana de Páscoa e sua família que morava em outras cidades estavam chegando para visitá-la, e resolveu trazê-los para serem atendidos. A partir desta data não parei mais de trabalhar com atendimentos, tendo vivenciado incontáveis histórias e experienciado grandes aprendizados.

3. CONCLUSÃO
A arte de simplesmente existir num estado puro de paz está ao revés da cultura particularmente desenvolvida na Terra, onde a busca da sobrevivência consiste em realizar um esforço, por vezes árduo para conseguir aquilo que supostamente compreendemos como necessidades humanas.
Fico a pensar e repensar sobre as reais necessidades humanas e de que maneira poderíamos satisfazê-las regidas por uma força natural e existencial, integrada com as Forças Universais, das quais em algum momento nos consideramos ou nos sentimos separados.
Entre as diversas histórias contadas por minha mãe, na minha infância, estava uma que se intitulava “Filho das Estrelas” e consistia de uma criança que foi roubada de seus pais, quando pequena e sobreviveu com muito sacrifício e quando conseguiu fugir dos seus raptores, se embrenhou numa longa e tumultuosa viagem, numa ânsia de voltar para casa.  
Lembrava que era um grandioso reino, muito abundante, maravilhosamente instalado no alto de uma montanha entre a vegetação naturalmente preservada e sabia que sua família estaria a sua espera. Apesar das infrutíferas buscas, tinham certeza que um dia se libertaria e confiavam no seu retorno. Entre todos os esforços na viagem de volta, sentiu-se protegido, abençoado e dirigido por uma força reconhecida como uma herança da sua família de origem.
Quando chegou diante do grande e deslumbrante portal que o levaria a sua casa, ainda lhe veio uma última prova, surgiu na sua frente um mendigo, pedindo-lhe uma moeda para matar sua fome, pois sua velhice e doença não lhe permitiam realizar qualquer trabalho.
Remexeu no seu bolso encontrando uma última moeda e relutante olhou para o homem a sua frente e compadecido a entregou de coração aberto. Imediatamente as cornetas tocaram e ele foi recebido com muita festa, muita alegria, sendo assim reconhecido como o legítimo herdeiro do trono de seu pai.
Como é comum nestas histórias e lendas culturalmente contadas às crianças, parece que é construído um caminho onde o sacrifício e provações são exigências como merecimento para alcançarem a liberdade, a abundância de vida. Aquelas que visualizam esta possibilidade conseguem chegar neste lugar de merecimento.
Às vezes sinto vontade de escrever novas histórias infantis, quem sabe encontrando na minha criança livre, a inspiração para abrir e assim mostrar novas possibilidades.Tem sido assim nos meus últimos anos, acessar histórias, as quais considero crenças, para decodificar essas impressões deixadas pela memória, nutridas pela carga emocional daquele momento.
A medida que essas impressões de memórias são expressadas, forma-se um campo movido por uma consciência interacional, onde é possível acessar uma ação cósmica de cura, nos diferentes aspectos, do que cada pessoa está naquele momento necessitando.
Percebo que no momento em que a pessoa consciente ou inconscientemente acessa esse Campo de Infinitas Possibilidades, ilumina o espaço que necessita de luz e consciência. Isto a torna capaz de transformar a história a qual é, na verdade uma crença, porém vivenciada como se ainda fosse verdade. Quando esta é acessada e compreendida, a situação em conflito fica em paz, podendo ser sentida através da manifestação de um estado interno de ampliação do campo de energia, repercutindo como numa onda quântica para outras pessoas e outros espaços/tempos da Terra.
Nessa possibilidade expressada pelo campo, não existe separação, o pensamento é o meio de transporte. Entretanto, acredito que o pensamento é como o raio e a trovoada, quando ouvimos o barulho da trovoada, o raio já caiu. Quando constato esta amplitude de ação vejo que minha mente, meu corpo, meu coração se aquietam e percebo minha ação e interação em qualquer área de conflito onde coloco minha atenção.
Sinto que existe uma linha de energia que se delineia em cada um de nós, vertical e horizontalmente. A linha vertical está ligada à prontidão e a linha horizontal ao merecimento. Quando ambas se encontram acende a luz e algo acontece.
Quando tudo está acontecendo apenas no campo da racionalidade, é gerada uma energia horizontal em camadas, é como se estivéssemos deitados, dormindo ou num estado de morte. Parece que as coisas estão sem movimento, sem vida. A verticalização da energia, que me foi mostrada através de uma visualização intuitiva, a qual tenho vivido, acontece em ondas espirais, em sentido anti-horários e horário, alterando este campo estacionário, como num furacão de vento onde tudo se movimenta. Isto para mim foi como um grandioso presente que já estava e sempre está presente no Universo, mas sem consciência não o utilizamos e nem sentimos seus benefícios.
A Transracionalidade na minha compreensão é tudo isto. Ela pode ser mensurada, através das diferentes formas de ação que se abrem, nas quais tudo se inclui, inclusive a racionalidade.
Numa vivência de expansão de consciência, me visualizei como uma flecha atirada ao vento, por um arqueiro, mirando num alvo. Esta flecha tinha um destino, mas eu estava agora na sua ponta  e portanto, cabia a mim decidir sua direção.
Nesse momento, percebi a importância de assumir o comando da minha vida, com minha observação constante dos estados internos expressados em meu corpo, quanto ao que eu sinto, o que eu quero, o que eu posso fazer, e assim me posicionar no EU SOU.
Resolvi integrar todos os aspectos da minha existência, mirando tudo que em mim entrava em contraste, para nessa inclusão, fazer as pazes comigo. Os questionamentos já se tornaram naturalmente aceitos, mas quando surgem, meu corpo imediatamente altera seu estado, então eu me observo e tudo se integra e daí brotam ensinamentos.
Dentro do que vivi em minha própria história pessoal percebo que a transracionalidade se relaciona com essa capacidade de me observar em cada momento, como venho fazendo, e ir pouco a pouco realizando essas transições necessárias para um bom viver nessa Terra.
E isso inclui tudo que está implícito, os aspectos materiais, financeiros, emocionais, afetivos, racionais, inconscientes, nas diversas idades que vou vivenciando e criando esse arquivo pessoal que livre e resolvido pode ser acessado tal como um banco de dados, sempre que necessito. Tudo isso compõe uma linda dança movimentada por um grande espiral, algo que não tem começo e nem fim. Relendo minha história percebo esse movimento próprio do Universo que harmonicamente encaixa cada pessoa em determinado momento histórico para que viva sua própria metamorfose.











4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DURKHEIM, Émile, As Regras do Método Sociológico, 3ª edição. Editora Martin Fontes, 2007.
PLATÃO, A República, 1.ª edição. Editorial Presença, 1995.
RODRIGO, Cláudio Eduardo. Durkheim por paradigmas e modelos. Revista Educação e Filosofia, v.16, nº32. Julho/Dezembro de 2002 [citado em 06 de Setembro de 2015 – 16:05].
MESQUIDA, Peri. Paulo Freire e Antonio Gramsci: A filosofia da práxis na ação pedagógica e na educação de educadores. Revista HISTERITE On Line, v.11, nº42.Setembro de 2011 [citado em 07 de Setembro de 2015 – 14:15].





Nenhum comentário:

Postar um comentário